Alcoolismo é doença mental? Entenda as implicações

Alcoolismo é doença mental

Desde 1967, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o alcoolismo como uma condição médica.

Essa decisão gerou debates científicos sobre sua classificação como um transtorno mental. A discussão envolve não apenas aspectos clínicos, mas também sociais e econômicos.

No Brasil, o impacto do consumo de álcool é significativo. Estudos das melhores clínicas de recuperação para dependentes químicos mostram que os prejuízos chegam a R$ 300 bilhões por ano, representando 7% do PIB.

Além disso, 13,5% das mortes entre jovens de 20 a 39 anos estão relacionadas ao álcool, segundo dados da OMS.

Outro ponto importante é a relação bidirecional entre o consumo de álcool e transtornos mentais. Muitas pessoas usam bebidas alcoólicas como forma de automedicação, o que pode agravar condições pré-existentes.

Este artigo busca esclarecer as implicações dessa classificação para a saúde e a sociedade.

O que é alcoolismo e como ele é classificado

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o consumo excessivo de álcool como um padrão persistente e prejudicial. Esse comportamento, quando mantido por mais de 12 meses, pode ser classificado como um transtorno.

A CID-10, por exemplo, utiliza códigos como F10.2 para Síndrome de Dependência e F10.3 para Estado de Abstinência.

Definição segundo a OMS e CID

Segundo a OMS, o transtorno por uso de álcool envolve um padrão de consumo que causa prejuízos significativos à saúde e à vida social.

A CID-11 reforça essa definição, estabelecendo critérios como desejo intenso, perda de controle e priorização do álcool sobre outras atividades.

Esses parâmetros ajudam profissionais a identificar e tratar o problema de forma eficaz.

Diferença entre etilismo e alcoolismo

O etilismo refere-se ao consumo episódico e excessivo, sem dependência física. Já o alcoolismo é caracterizado por uma necessidade compulsiva, com aumento da tolerância e sintomas de abstinência.

Um exemplo prático é a diferença entre um “bebedor social de final de semana” e alguém que consome diariamente e não consegue parar.

Dados da Secretaria de Saúde de São Paulo mostram que 90% das internações relacionadas ao álcool envolvem homens.

Além disso, estudos apontam que o sistema dopaminérgico mesolímbico desempenha um papel crucial no desenvolvimento da dependência.

Essas informações ajudam a entender a complexidade do tema e a importância de buscar ajuda especializada.

Alcoolismo é doença mental? A resposta da ciência

A ciência tem buscado respostas para entender se o consumo excessivo de álcool pode ser classificado como um transtorno.

O DSM-5, manual utilizado por profissionais de saúde, define o Transtorno por Uso de Álcool (TUA) como uma condição que envolve padrões prejudiciais e persistentes.

Essa classificação reforça a ideia de que o problema vai além de uma escolha pessoal.

Estudos da Alcohol: Clinical & Experimental Research mostram que há uma forte comorbidade entre o uso de álcool e outros transtornos mentais.

Dados da Unifesp indicam que 37% dos dependentes alcoólicos apresentam condições psiquiátricas associadas, como ansiedade e depressão. Isso evidencia a complexidade do tema.

Neurocientistas destacam que o álcool causa alterações no córtex pré-frontal e no sistema límbico, áreas responsáveis pelo controle de impulsos e emoções.

Essas mudanças explicam, em parte, a dificuldade em parar de beber e a priorização do álcool sobre outras atividades.

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) apoia a classificação do TUA como um transtorno mental. Esse posicionamento tem implicações legais, como a Lei Federal 11.343/2006, que reconhece a necessidade de tratamento especializado para dependentes.

Um caso clínico exemplar é o de um paciente diagnosticado com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e dependência alcoólica.

O tratamento integrado, que aborda ambas as condições, mostrou-se mais eficaz do que abordagens isoladas. Isso reforça a importância de uma visão holística da saúde mental.

Sintomas e sinais do alcoolismo

Reconhecer os sinais do consumo excessivo de álcool é fundamental para buscar ajuda. Esses sinais podem se manifestar de diferentes formas, tanto no corpo quanto no comportamento. Identificá-los precocemente pode evitar complicações graves.

Sintomas físicos da dependência

Os sintomas físicos incluem tremores matinais, sudorese excessiva e taquicardia. Em casos mais graves, podem ocorrer crises convulsivas e até delirium tremens, uma condição com 20% de mortalidade se não tratada.

Marcadores biológicos, como o CDT e o VCM elevado, também são indicativos de dependência.

Sintomas psicológicos e comportamentais

No aspecto psicológico, é comum observar agressividade, isolamento social e negligência de responsabilidades.

Muitos indivíduos escondem garrafas ou bebem em horários incomuns, sinais que familiares devem ficar atentos. A progressão pode levar de “blackouts” ocasionais à amnésia persistente.

O impacto na vida profissional também é significativo. Estudos do Dieese mostram que o absenteísmo relacionado ao álcool afeta a produtividade.

Buscar ajuda especializada é essencial para interromper esse ciclo e promover a recuperação.

Relação entre alcoolismo e transtornos mentais

A conexão entre o consumo excessivo de álcool e transtornos mentais é um tema amplamente estudado pela ciência.

Essa relação é complexa e pode agravar sintomas existentes ou até mesmo desencadear novos problemas. Compreender essa dinâmica é essencial para buscar tratamentos eficazes.

Ansiedade e depressão

Pessoas que consomem álcool em excesso têm um risco quatro vezes maior de desenvolver Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), segundo um estudo da OPAS de 2022. Além disso, o álcool pode piorar sintomas de depressão, criando um ciclo vicioso difícil de quebrar.

Muitos indivíduos usam bebidas alcoólicas como forma de automedicação, buscando alívio temporário para a ansiedade.

No entanto, o efeito paradoxal do álcool como depressivo do sistema nervoso central acaba agravando os sintomas a longo prazo.

Transtorno bipolar e esquizofrenia

Entre pacientes com transtorno bipolar, 60% têm histórico de abuso de álcool, de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

O uso concomitante de álcool pode piorar sintomas psicóticos, como alucinações e delírios, especialmente em casos de esquizofrenia.

Protocolos de tratamento integrado, que abordam tanto o consumo de álcool quanto os transtornos mentais, têm se mostrado mais eficazes. Essa abordagem holística é fundamental para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Efeitos do álcool no cérebro e saúde mental

O consumo excessivo de álcool pode causar alterações profundas no funcionamento cerebral. Essas mudanças afetam não apenas a química do cérebro, mas também a saúde mental de quem consome.

Mudanças químicas e emocionais

O álcool interfere nos sistemas neurotransmissores, como GABA, glutamato e serotonina. Essas alterações podem levar a desequilíbrios emocionais, como ansiedade e depressão.

Além disso, a neurotoxicidade do etanol causa danos neuronais e gliose, prejudicando a comunicação entre as células cerebrais. Isso explica por que muitos dependentes apresentam dificuldades cognitivas e emocionais.

Impacto a longo prazo

Estudos mostram que o uso crônico de álcool reduz o volume hipocampal em 15-20%. Essa região do cérebro é crucial para a memória e o aprendizado.

Outro efeito grave é a síndrome de Korsakoff, causada pela deficiência de tiamina. Essa condição afeta 2% dos casos crônicos e pode levar a perdas de memória irreversíveis.

Dados de neuroimagem revelam atrofia cortical nos lobos frontais, área responsável pelo julgamento e controle de impulsos. Essas mudanças têm repercussões sociais, como a perda de QI funcional e capacidade de decisão.

Como é feito o diagnóstico do alcoolismo

O diagnóstico do consumo excessivo de álcool envolve uma abordagem clínica detalhada. Profissionais de saúde utilizam critérios estabelecidos pela OMS e ferramentas validadas para identificar padrões prejudiciais.

Um dos métodos mais reconhecidos é o AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test), considerado padrão-ouro pela OMS.

O DSM-5, manual utilizado por psiquiatras, define que a presença de dois ou mais sintomas em 12 meses pode indicar um transtorno.

Esses sintomas incluem desejo intenso, dificuldade de controle e uso contínuo apesar das consequências negativas.

A avaliação clínica é complementada por exames laboratoriais, como a medição de GGT e VCM, que ajudam a identificar danos orgânicos.

Questionários como o CAGE e o MAST são frequentemente aplicados para avaliar comportamentos de risco.

Além disso, o relato de familiares é fundamental para um diagnóstico preciso, especialmente em casos complexos.

O uso combinado de álcool com outras substâncias psicoativas também é considerado durante a avaliação.

O CID-11 reforça a importância de uma abordagem multidisciplinar, que inclui entrevistas clínicas, exames de imagem e análise de marcadores biológicos.

Essa combinação de métodos permite um diagnóstico mais completo e preciso, facilitando o planejamento do tratamento.

Tratamento e recuperação do alcoolismo

A recuperação do consumo excessivo de álcool exige uma abordagem multidisciplinar e personalizada. O sucesso depende da combinação de terapias, medicamentos e apoio social.

Cada caso é único, e o tratamento deve ser adaptado às necessidades individuais.

Terapias e medicamentos

A psicoterapia, especialmente a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), é uma das abordagens mais eficazes.

Ela ajuda a identificar e modificar pensamentos e comportamentos relacionados ao álcool. Além disso, previne recaídas ao ensinar estratégias de enfrentamento.

Entre os medicamentos, a Naltrexona e o Acamprosato têm eficácia comprovada em 68% dos casos, segundo a ANVISA. Eles reduzem a vontade de beber e aliviam sintomas de abstinência.

Em casos graves, benzodiazepínicos são usados em regime hospitalar para desintoxicação segura.

Novas terapias, como a estimulação magnética transcraniana (EMT), estão ganhando espaço. Elas atuam diretamente no cérebro, ajudando a restaurar o equilíbrio químico e emocional.

Grupos de apoio e internação

Grupos de ajuda mútua, como o Alcoólicos Anônimos (AA), são fundamentais para a recuperação. Estudos da Universidade de Harvard mostram uma taxa de sucesso de 40% em programas de 12 meses. O apoio emocional e o compartilhamento de experiências fortalecem a motivação.

Em casos mais graves, a internação pode ser necessária. Comunidades terapêuticas, como o Grupo Recanto, oferecem um ambiente estruturado para a recuperação. A participação da família também é essencial, ajudando a criar uma rede de suporte.

Estratégias de prevenção de recaída, como a identificação de gatilhos, são ensinadas durante o tratamento. A combinação de métodos clínicos e apoio emocional aumenta as chances de sucesso a longo prazo.

Caminhos para prevenir e buscar ajuda

A prevenção e a busca por ajuda são passos essenciais para enfrentar desafios relacionados ao consumo de álcool. Estratégias comunitárias, como programas municipais de redução de danos, têm se mostrado eficazes.

Além disso, a mídia desempenha um papel crucial na conscientização, desromantizando o consumo e promovendo hábitos saudáveis.

Recursos digitais, como o aplicativo DrinkControl, ajudam no monitoramento e redução do consumo.

A legislação também é importante, com a Lei 13.840/2019 garantindo direitos trabalhistas para quem está em tratamento. Projetos como o “Balada Segura” em Santa Catarina são exemplos de iniciativas bem-sucedidas.

Para familiares, a técnica CRAFT oferece orientações assertivas na abordagem de dependentes. Em crises, o CVV (188) é um canal de apoio disponível 24 horas.

A combinação de prevenção, conscientização e uma rede apoio forte é fundamental para promover mudanças positivas.

Imagem: canva.com

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