Com o resultado positivo do teste de gravidez em mãos, durante a primeira consulta de pré-natal, entre a alegria quase inexplicável de estar gestando e a insegurança do que pode vir a acontecer nos próximos 9 meses, uma dúvida nasce e irá permear toda a trajetória da futura mamãe: “e ai doutor, o parto poderá ser normal ou terá que ser cesárea”?
O fato é que, independente da via de parto escolhida pela gestante sob orientações do médico assistente, tem algo que jamais pode faltar nesse momento tão marcante para o complexo mãe-bebê: a humanização.
No ano de 2000, o Ministério da Saúde, em concordância com as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), empregou de forma oficial os direitos da gestante para um parto humanizado, como: ter direito a um acompanhante durante todo o trabalho de parto, escolher a posição que deseja ficar no momento da expulsão e ter direito a analgesia no momento que achar conveniente, e os deveres da equipe assistente em garantir o conforto e, principalmente, a autonomia dessa mulher.
Nesse contexto, com o objetivo de expandir essa importante filosofia para o máximo de gestantes possíveis, nascia uma nova ideia: por que não humanizar também o parto cesáreo? Por que não transformar a experiência hospitalocêntrica da cesariana em um ambiente vivo, alegre e intenso, se aproximando ao máximo das recomendações do parto humanizado convencional?
Realmente é possível uma cesárea humanizada?
Sim, é possível humanizar a cesariana. Primeiramente, alguns passos técnicos tornam-se essenciais: os campos cirúrgicos, geralmente verdes ou azuis, que separam a mãe dos cirurgiões, dão lugar a campos transparentes, os quais permitem que a gestante e o acompanhante possam assistir e vivenciar todo o passo a passo do nascimento.
No mesmo sentido, o silêncio da sala de cirurgia somado ao barulho agonizante dos aparelhos de monitorização, pode ser substituído por músicas relaxantes ou alguma trilha-sonora à escolha da mãe, tornando o ambiente hospitalar mais acolhedor e receptivo.
Como funciona a técnica de humanizar a cesariana?
Quanto a técnica cirúrgica, o médico, sem pressa, opta que o recém-nascido, por si só, tenha a oportunidade de deixar o útero por força própria, sem as convencionais pressões na barriga da mãe para retirá-lo (compressões essas que não configuram violência obstétrica no parto cesáreo e são amplamente autorizadas).
Após o nascimento, entra o objetivo principal dessa nova concepção de cesariana: o contato imediato pele-a-pele entre mãe e filho e a amamentação precoce ainda na sala de parto, fazendo com que o foco esteja sempre voltado ao bem estar materno-fetal e não unicamente na realização da cirurgia.
A verdade é que, não há motivos para o filho ser separado da mãe imediatamente após o parto. Não há motivos para impedir que o filho seja levado ao seio materno para iniciar um dos fenômenos mais importantes do desenvolvimento humano: a amamentação.
Conclusão
Dessa forma, não é preciso ser um especialista para afirmar que, sim, todo parto pode e deve ser humanizado, independente do local, situação ou via escolhida, pois humanizar é ofertar mais saúde para o bebê, é fortalecer os laços maternos, é garantir o respeito com a vida.
Afinal, como disse o pioneiro obstetra francês, Michael Odent, “Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer.”
Por: Dr. Glauco Prado Silva
Ginecologia e Obstetrícia
CRM/GO: 11559 | RQE: 6093
Dr. Rafael Nunes Lobo
Médico
CRM/GO: 26703
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